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Japão lança guerra contra a obesidade.

13 de junho de 2018 by Alexander Morrell0
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Japão lança guerra contra a obesidade.

Norimitsu Onishi
Em Amagasaki, Japão

O Japão, um país que não é conhecido por pessoas que estão acima do peso, lançou uma das campanhas mais ambiciosas já feitas por uma nação no sentido de emagrecer os seus cidadãos.

Convocado pela prefeitura de Amagasaki em uma manhã recente, Minoru Nogiri, 45, dono de uma floricultura, viu-se em uma fila para ter a cintura medida. Sem nenhuma excesso de barriga visível, ele parecia correr pouco risco de ser classificado de obeso, ou de metabo, a palavra que atualmente é preferida no Japão.

Mas como o novo limite prescrito pelo Estado para a cintura dos homens é de estritos 85,1 centímetros, ele mediu-se ansiosamente em casa alguns dias antes. “Estou no limite”, disse Nogiri.

Kawamoto,73, tem a sua cintura medida em uma clínica de saúde pública em Matsuyama

Segundo uma lei nacional que entrou em vigor dois meses atrás, as companhias e os governos locais precisam medir a cintura dos japoneses da faixa etária de 40 a 75 anos como parte dos seus checkups de saúde anuais. Isso representa mais de 56 milhões de cinturas, ou cerca de 44% de toda a população.

Aqueles que excederem os limites do governo – 85,1 centímetros para os homens e 89,9 centímetros para as mulheres, números idênticos aos limites estabelecidos em 2005 para o Japão pela Federação Internacional de Diabetes como um guia simples para a identificação de riscos de saúde – e sofrerem de uma doença relacionada ao peso receberão orientação dietética se após três meses não perderem alguns quilos. E se for necessário, essas pessoas serão incentivadas a submeterem-se a um processo de reeducação após seis meses.

Para atingir o seu objetivo de reduzir o número de indivíduos acima do peso em 10% nos próximos quatro anos, e em 25% nos próximos sete anos, o governo imporá penalidades financeiras às companhias e aos governos locais que deixarem de atingir metas específicas. O Ministério da Saúde do país argumenta que a campanha evitará a disseminação de doenças como o diabetes e os acidentes vasculares cerebrais.

O ministério anunciou também que a redução das cinturas reduzirá os custos crescentes com tratamentos de saúde dispensados a uma população que envelhece rapidamente, o que é um dos mais graves problemas enfrentados atualmente pelo Japão. A maioria dos japoneses é coberta pelo sistema de saúde pública ou pelo seguro saúde das empresas em que trabalham. A fúria devido a um plano que teria obrigado as pessoas de mais de 75 anos a pagar mais pelos serviços de saúde acabou gerando, recentemente, uma censura contra o primeiro-ministro Yasuo Fakuda, a primeira contra um primeiro-ministro na história do Japão pós-guerra.

Mas os críticos dizem que as diretrizes do governo – especialmente aquela referente à cintura dos homens – são simplesmente rígidas demais e que mais da metade dos homens será considerada obesa. Segundo eles, o efeito disso será encorajar a auto-medicação e, no fim das contas, provocar um aumento dos custos dos serviços de saúde.

Yoich Ogushi, professor da Escola de Medicina da Universidade Tokai, próxima a Tóquio, e especialista em saúde pública, afirma: “Não existe necessidade alguma de que os japoneses percam peso. Não creio que a campanha terá um efeito positivo. Se isto fosse feito nos Estados Unidos, haveria benefícios, já que existem muitos norte-americanos pesando mais de 100 quilos. Mas os japoneses são tão magros que não se podem dar ao luxo de perder peso”.

Na verdade Ogushi tratou os norte-americanos com uma severidade maior do que eles merecem. Uma pesquisa feita pelo Centro Nacional de Estatísticas de Saúde demonstrou que a média da cintura dos homens norte-americanos caucasianos é de 99,1 centímetros, ou 2,5 centímetros a menos do que os 101,6 centímetros preconizados pela Federação Internacional de Diabetes. As mulheres norte-americanas não se saem tão bem, tendo uma média de cintura de 92,7 centímetros, ou cerca de cinco centímetros a mais do que o limite de 87,9 centímetros. As diferenças de limites refletem variações em altura e estrutura corporal em relação aos homens e mulheres japoneses.

Estatísticas comparáveis relativas aos japoneses são escassas, mas um estudo de 1998, feito com um grupo de homens japoneses que trabalham no setor de serviços, revelou uma cintura média de 78,2 centímetros. Mas esse número modesto aparentemente não foi suficiente para aliviar as preocupações dos burocratas da saúde do Japão.

Em Amagasaki, uma cidade no oeste do Japão, as autoridades têm se movimentado agressivamente no sentido de medir cinturas naquilo que o governo chama de “checkups especiais”. A cidade teve que medir pelo menos 65% dos moradores de 40 a 74 anos de idade cobertos pelo seguro saúde governamental, algo que o funcionário da prefeitura, Midori Noguchi, reconhece ser “extremamente difícil”.

Quando chegou a sua vez, Nogiri, o dono da floricultura, entrou em uma cabine na qual expôs a linha de cintura, revelando uma barriga reta com alguns “pneus” muito discretos. Uma enfermeira passou uma fita métrica em torno da barriga dele, na altura do umbigo. O resultado foi 85,3 centímetros, ou 0.25 centímetros além do limite.

“Perdi”, disse ele, com a derrota estampada na face.

A campanha começou dois anos atrás, quando o Ministério da Saúde passou a alertar para um problema de saúde do qual poucos japoneses tinham ouvido falar – a síndrome metabólica – uma série de fatores que eleva o risco do surgimento de doenças vasculares e diabetes. Entre esses fatores estão a obesidade abdominal, a pressão alta e os altos níveis de glicose e colesterol no sangue. Rapidamente, este problema assustador foi apelidado de metabo, palavra que tornou-se a designação nacional informal para obeso.

O prefeito do município de Mie se engajou com tanto fervor a campanha anti-metabo que ele e seis outros funcionários da prefeitura criaram um grupo de emagrecimento chamado “Os Sete Samurais Metabo”. A campanha terminou abruptamente depois que um membro de 47 anos, com uma cintura de 99,1 centímetros, morreu vitimado por um ataque cardíaco quando corria.

Mesmo assim, recentemente, em uma academia de ginástica da cidade, dezenas de moradores – poucos dos quais davam a impressão de serem obesos – dançavam ao som da música anti-metabo da cidade, que adverte para o perigo de os botões da calça despregarem-se e saltarem para
longe: “pyun-pyun-pyun!”

“Adeus, metabólica. Façamos outro checkup juntos. Vamos! Vamos! Vamos!
Adeus, metabólica. Não esperemos até adoecermos. Não! Não! Não!”

“A palavra metabo fez com que os funcionários do setor de saúde tivessem maior facilidade para pedir aos pacientes que percam peso”, afirma Yoshikuni Sakamoto, médico da associação de funcionários do serviço de saúde da Matsushita, que fabrica produtos da marca Panasonic.

“Antes precisávamos abordar a questão com cuidado devido à palavra obesidade, que sem dúvida tem uma conotação negativa”, diz Sakamoto.
“Mas metabo é uma expressão mais inclusiva”.

Antes mesmo das diretrizes de Tóquio, a Matsushita concentrava-se no peso dos funcionários durante os checkups anuais. No verão passado, Akio Inoue, 30, um engenheiro de 1,68 metros e 108 quilos foi advertido por um médico da companhia de que teria que perder peso ou tomar medicação para a sua pressão alta. Após fazer uma dieta, o peso dele diminuiu para 82,5 quilos, mas a sua cintura ainda está mais de 2,5 centímetros acima do limite aprovado pelo governo.

Com a nova lei, a Matsushita precisa medir as cinturas não só dos seus funcionários, mas também das suas famílias e dos aposentados. Como parte dos esforços intensificados, a companhia passou a fornecer aos funcionários toalhas de “checkup metabo”, que funcionam também como fitas métricas.

“Ninguém gosta de ser identificado como metabo”, afirma Kimikko Shineno, uma enfermeira da Matsushita. “O efeito é semelhante ao das campanhas antitabaco, que faz com que os fumantes sejam tratados com desaprovação”.

Companhias como a Matsushita precisam medir as cinturas de pelo menos 80% dos seus funcionários e fazer com que 10% daqueles considerados metabólicos percam peso até 2012. Além do mais, elas precisam conseguir que 25% dos funcionários obesos percam peso até 2015. Caso não atinjam essas metas, elas poderão sofrer penalidades por parte do governo. No entanto, se excederem metas específicas, as suas contribuições financeiras para o sistema nacional de saúde poderão ser reduzidas.

A NEC, a maior fabricante de computadores pessoais do Japão, informou que, caso não consiga atingir as metas, poderá pagar até US$ 19 milhões em penalidades. A companhia decidiu acabar com o mal do metabo pela raiz, começando a medir as cinturas de todos os seus funcionários com mais de 30 anos de idade, e patrocinando os dias de educação anti-metabo para as famílias dos funcionários.

Alguns especialistas dizem que as diretrizes do governo a respeito de tudo, da cintura à pressão arterial, são tão rígidas que é impossível alcançar, e muito menos ultrapassar, as metas estabelecidas. Eles afirmam que o verdadeiro objetivo do governo é transferir os custos de saúde para o setor privado.

O médico Minoru Yamakado, funcionário da Sociedade Ningen Dock do Japão, uma associação de médicos que faz exames físicos, diz que endossou a campanha do governo e o seu foco na medicina preventiva.

Mas ele afirma que a prioridade real do governo deveria ser a redução do índice de tabagismo, que continua entre os mais elevados entre as nações avançadas, em grande parte devido ao forte lobby do tabaco no Japão.

“O tabagismo é até mesmo uma das causas da síndrome metabólica”, afirma Yamakado. “Assim, se estão preocupados com o metabo, fazer com que as pessoas deixem de fumar deveria ser a prioridade principal”.

No entanto, apesar das inseguranças, o Japão está avançando.

Kizashi Ohama, autoridade municipal de Matsuyama, uma cidade que também vem agindo agressivamente contra o metabo, diz que deixa o debate sobre os méritos da campanha para os especialistas e autoridades da saúde em Tóquio.

“Como administrador local, posso sentir que há inconsistências em torno desse projeto”, afirma. “Mas, se eu adotá-lo, farei isso agressivamente”.

Na clínica de saúde pública de Matsuyama, Kinichiro Ichikawa, 62, diz que o limite de cintura aprovado pelo governo foi “severo”. Ele tem 1,6 metro de altura, pesa apenas 61 quilogramas e não conhece nenhuma pessoa obesa.

“O Japão não deveria fazer tanto barulho em torno disso”, disse ele, após ter a cintura medida.

Mas em um shopping center daqui, Kenzo Nagata, 73, proprietário de uma loja de brinquedos, afirma que ignorou uma carta convocando-o para fazer o chamado checkup especial. Nagata afirma que a sua cintura é problema dele e de mais ninguém, embora acrescente que está seguramente abaixo do limite determinado pelo governo, tendo apenas 83 centímetros. Ele pretende ignorar a segunda convocação que a cidade deverá enviar pelo correio aos recalcitrantes.

“Eu não vou”, garante Nagata. “Não acho que isso diga respeito a mim”.


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